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Chip da beleza ou implante hormonal para tratamento de doenças? Especialista responde as principais dúvidas (Imagem: Reprodução) |
A moda de utilizar remédios e hormônios para fins estéticos não é nova, mas ciclicamente provoca rebuliço na comunidade médica. Diante dos movimentos do CFM neste mês, o ginecologista Dr. Igor Padovesi, com forte atuação na área dos implantes hormonais e vasta experiência em cirurgias de endometriose, responde as principais dúvidas e detalha as corretas indicações do implante.
O que é a gestrinona e para que ela serve?
Dr. Igor Padovesi: A gestrinona não é um “chip da beleza”. Ela é um hormônio esteroide sintético, que serve como alternativa de tratamento ginecológico para condições como endometriose, miomas, problemas menstruais (cólica e fluxo intenso) e TPM, especialmente pra mulheres que não se adaptaram aos tratamentos convencionais. Ela é cercada de polêmicas justamente por ser desenvolvida em farmácias de manipulação e não na indústria farmacêutica convencional, além de não ter estudos controlados de longo prazo e com o devido rigor científico que garanta sua segurança. De maneira geral, os produtos manipulados não são recomendados pelas sociedades médicas tradicionais, por não seguirem o mesmo rigor de controle de produção, não terem bula etc.
Qual é o atrativo estético que seduz as consumidoras?
Dr. Igor Padovesi: O apelo de “chip da beleza” se deve ao fato de que a gestrinona tem um efeito colateral de aumentar a ação da testosterona natural da mulher, provocando um efeito anabólico que leva a ganho de massa magra e perda de gordura. Esse aumento da testosterona também causa maior disposição, desempenho físico e melhora da libido.
O grande apelo da gestrinona, que a torna única, é o efeito exatamente oposto ao dos anticoncepcionais orais: em mulheres tomando pílulas, ocorre aumento de uma proteína no sangue chamada SHBG, que se liga à testosterona reduzindo a fração livre do hormônio. Essa redução da testosterona causa melhora da pele (oleosidade e acne), mas por outro lado pode causar piora significativa da libido e dificuldade para ganho de massa magra.
Já com a gestrinona, as menstruações são bloqueadas de forma semelhante, mas ocorre o contrário com a SHBG (que é reduzida expressivamente), aumentando, então, a fração livre da testosterona natural.
E quais são os malefícios que estimulam as polêmicas no uso?
Dr. Igor Padovesi: Se, por um lado a gestrinona promove os efeitos que acabo de citar, que podem ser vistos como positivos, por outro, ela também pode trazer consigo os efeitos negativos naturais do aumento da testosterona na mulher, como piora da oleosidade da pele, acne, queda de cabelo, piora do perfil de colesterol e menos frequentemente, aumento do clitóris e mudança da voz.
O apelo do emagrecimento também chama consumidoras. Isso é real?
Dr. Igor Padovesi: Não. Inclusive, pode até gerar elevação de peso, pois, por acelerar o metabolismo corporal, a fome pode aumentar e, em mulheres sedentárias e com hábitos alimentares ruins, essa combinação pode, sim, levar ao ganho de peso e à retenção de líquido.
A promessa de melhora na relação músculo/gordura da gestrinona depende totalmente da prática constante de atividade física e de uma alimentação adequada.
Os implantes de gestrinona são famosos. Mas quais outros implantes hormonais existem?
Dr. Igor Padovesi: Existem três diferentes tipos de implante hormonal: de gestrinona, estradiol e testosterona. Os implantes de estradiol e testosterona são usados principalmente para tratamento da menopausa, principalmente nos EUA na última década, com excelentes resultados.
Em que situações o implante hormonal é medicamente recomendável?
Dr Igor Padovesi: Os implantes são essencialmente uma via de tratamento hormonal, utilizados principalmente para mulheres na menopausa. Os hormônios administrados na forma de implantes também podem ser utilizados por outras vias, como na forma oral ou transdérmica. Porém, por serem implantáveis, sem depender de uso diário, tendem a levar a melhores resultados. E já se sabe que na reposição hormonal da menopausa, quando os hormônios são administrados por via oral, o risco de trombose é maior (embora ainda baixo de modo geral). Por isso é sempre preferível administrar os hormônios por alguma via não-oral (ex: por via transdérmica, vaginal, ou na forma de implantes).
Nos tratamentos com finalidade médica, qual o prazo para que resultados apareçam?
Dr. Igor Padovesi: No caso da reposição hormonal da menopausa com implantes de estradiol + testosterona, os principais sintomas (calorões, insônia, alterações do humor, piora da libido, fadiga, alterações da memória, ressecamento da pele) tendem a desaparecer já nas primeiras semanas. No caso do implante de gestrinona, a suspensão das menstruações e melhora dos sintomas de cólicas menstruais e TPM pode demorar um pouco mais, de 1 a 2 meses.
Já o efeito estético, que não deve ser a indicação primária, mas é fato que muitas pessoas também buscam, acontece um pouco mais lentamente. Recomendamos dar um prazo mínimo de 3 a 4 meses para repetir o exame de bioimpedância, que sempre documenta a melhora da composição corporal.
Dr. Igor Padovesi Ginecologista e obstetra
CRM-SP 134.933 - RQE 40093
Formado e pós-graduado pela USP
Ex-Preceptor da disciplina de Ginecologia da USP
Prêmio "Melhor Médico Residente" pela disciplina de Obstetrícia da USP (Prêmio “Prof. Bussâmara Neme” - 2010)
Médico do corpo clínico do Hospital Albert Einstein, pertencente à categoria “Einstein Premium” pelo programa de relacionamento do corpo clínico da instituição (segmentação mais alta entre o corpo clínico)
Especialização em Endometriose e Cirurgia Minimamente Invasiva pelo Hospital Sírio-Libanês
Colunista oficial e embaixador da revista Pais&Filhos, autor da série "Gravidez sem Neura"
Membro da Comissão de Comunicação Digital da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO -- Diretoria 2016-2019)
Título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia, certificado em Endoscopia Ginecológica (Videolaparoscopia e Histeroscopia) pela FEBRASGO / AMB
Curso de “Lifestyle Medicine” pela Universidade Harvard (2018)
Co-autor de trabalhos científicos publicados na área de Ginecologia e Endometriose
Autor de conteúdos na área de Ginecologia para cursos do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein
Instrutor do curso de pós-graduação e outros cursos da área de Ginecologia e Obstetrícia no Hospital Albert Einstein
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Fonte: Assessoria de imprensa